sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Digamos Amém

O que aconteceria caso alguém, sem a intenção de matar, enrolasse em um colchão de espuma um bandido conhecido, autor de diversos crimes, ateasse fogo à este colchão e ficasse assistindo-o agonizar até a beira da morte ?

Repito esta mesma suposição apenas substituindo o bandido por um juiz (ou seis por meia-dúzia).

Seguindo a lógica da nossa justiça, aconteceria nada ou quase nada.

As vezes fica difícil para que eu, mero espectador deste bizarro espetáculo, consiga entender o que se passa na cabeça de um juiz ao proferir uma sentença e, em função disto o que se passa na cabeça do policial que arriscou a vida para deter o bandido, dos jurados que dispensaram seu tempo e deixaram sua família para participar da audiência, da família da vítima que além da perda do ente querido, amargam a perda da dignidade e do respeito pela instituição pública.

Que motivos levam nossa justiça à esta conivência absurda com o crime ?

Não acredito meramente em corrupção, mas acredito que em primeiro lugar está o medo.

Que as organizações criminosas têm sob suas mangas juízes, advogados, policiais e delegados é fato concreto, mas minoria.

A verdade é que o crime não tem rosto, a justiça sim.

Bandido não tem "estrela na testa", não tem distintivo e (normalmente) não tem farda.

O policial que captura um bandido de uma facção criminosa tem rosto, tem nome, tem endereço e tem família. A juíza (ou juiz) que julga um bandido ídem.

Lembro-me de uma série de televisão onde dois grupos guerreavam e o símbolo no uniforme de um dos lados era um alvo nas costas.

Aparentemente é o que acontece com nossa polícia e nossa justiça.

Naquele fatídico dia das mães, em que o crime organizado nos ensinou o quanto é organizado, também nos deram o recado : "Sabemos onde vocês moram".

Delegacias, Forum, corpo de Bombeiros, casas de delegados, policiais e promotores foram alvejadas e, muitas ainda conservam as marcas.

Talvez por isto se recorra às nossas leis para abrandar crimes tão cruéis e desumanos.

Lei escrita por bandidos, votada por bandidos, sancionada por bandidos e muitas vezes mantida por bandidos e por eles aplicadas.

Quantos são os políticos que o tráfico sustenta ?

Impossível saber ao certo, mas nossos parlamentares estão aí atropelando e matando pedestres, dirigindo esquemas de corrupção e desvio de verbas, matando e mandando matar os desafetos, trucidando com serra elétrica e comandando gangues ou sendo comandados por elas.

São eles que votam o aumento do próprio salário e recusam-se à pagar um salário digno à professores e policiais. São eles os principais responsáveis pela falência do nosso sistema de saúde.

A morte de um delegado de forma hedionda, com requintes de crueldade e de maneira acintosa vai ficar no esquecimento. Sequer teve grande destaque na mídia, talvez menos importante que os já rotineiros escândalos no senado e no congresso, que o final de "A Fazenda" ou qualquer outra porcaria que o valha.

Os culpados, aponto-os já. O débil escritor deste artigo e o não menos débil leitor.

Felicidades à nós, cúmplices estupefatos desta barbaridade, que invadimos vestiários armados quando nosso time não ganha, mas nos calamos ante à este espetáculo da miséria humana.



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